Substituição de membros do conselho da Petrobrás atrai consultorias de recrutamento

Por: Fernanda Nunes e Vinicius Neder, O Estado de S. Paulo
Fonte: Estadão
RIO - A substituição de membros do Conselho de Administração da
Petrobrás está na mira de consultorias de recrutamento. A WCD Brasil, filial
brasileira da fundação global dedicada a fomentar mais diversidade e maior
participação de mulheres nos conselhos de administração, fez um chamado
entre suas associadas em busca de interessadas em se candidatar junto ao
“headhunter” responsável pela seleção.
As vagas no conselho da Petrobrás foram abertas após a renúncia coletiva
de quatro conselheiros em meio à substituição de Roberto Castello Branco
na presidência da companhia. Cinco das 11 cadeiras do colegiado estarão
em jogo numa assembleia extraordinária de acionistas, em data ainda a ser
definida. O governo federal movimentou o comando da petroleira após o
presidente Jair Bolsonaro criticar a política de preços de combustíveis e
indicar o general da reserva Joaquim Silva e Luna para o lugar de Castello
Branco.
Além dos quatro conselheiros que anteciparam que não querem ser
reconduzidos em seus cargos, Leonardo Antonelli, que ocupa uma das três
vagas destinadas a representantes dos acionistas minoritários, informou
que seguirá no cargo apenas se for eleito novamente pelos investidores na
assembleia. O anúncio da WCD Brasil, que circula, pelo menos, desde sextafeira,
5, informa que a entidade está em contato com o “headhunter” que
“está recrutando” para o conselho da Petrobrás. Pede que as associadas da
entidade que tenham interesse em se candidatar se inscrevam numa
plataforma exclusiva em seu site até a meia-noite deste domingo, 7.
“Buscam candidatos com experiência em conselhos robustos de grandes
companhias”, diz o anúncio.
Segundo a co-chair da WCD em São Paulo, Marienne Coutinho, o anúncio
de vagas é uma das ações que a entidade faz para fomentar a presença de
mulheres nos conselhos. O trabalho corriqueiro da WCD inclui a
organização de eventos, encontros de “networking” e sensibilização de
empresas e consultorias de recrutamento sobre a necessidade de
selecionar mais mulheres para os conselhos de administração. Também
passa por cursos de formação para executivas.
Nesse trabalho, especialmente nos últimos anos, a WCD tem sido
procurada por membros de conselhos e consultorias de recrutamento, para
ajudar, com indicações de executivas, a selecionar conselheiras em
potencial. Quando isso ocorre, explicou Marienne, a entidade divulga as
vagas entre todas as associadas. As executivas que são membros da
entidade, então, acessam a plataforma fechada no site e cadastram seus
currículos, que depois são encaminhados. Normalmente, os anúncios são
feitos com prazo de dois a três dias para o cadastro das interessadas.Entre
as cerca de 250 associadas da WCD no Brasil, 88% já ocupam vagas em
algum conselho, em companhias abertas, grandes empresas familiares em
vias de profissionalização da gestão e startups preocupadas com a
governança e que, portanto, montam conselhos de administração. Há
também presidentes de empresas entre as associadas.
No caso específico das vagas abertas no conselho da Petrobrás, a co-chair
da WCD disse que não sabe quem contratou a consultoria de recrutamento
– cujo nome ela preferiu não revelar. Tampouco sabe se a consultoria busca
currículos para preencher uma ou mais vagas no conselho da petroleira. O
anúncio foi distribuído no grupo de WhatsApp das associadas da WCD e na
plataforma no site da entidade. Na noite de sexta-feira, 5, estava na página
principal do site da WCD, mas, no sábado, 6, foi retirado.“Nossa motivação
é colocar as mulheres nos conselhos”, afirmou.Na formação atual, apenas
uma das 11 vagas do conselho da Petrobrás é ocupada por uma mulher,
Rosângela Buzanelli Torres, eleita como representante dos trabalhadores
da estatal.
Como as quatro cadeiras que precisarão ser preenchidas na assembleia de
acionistas representam os interesses da União, é possível que o próprio
governo federal tenha contratado consultorias de recrutamento para
encontrar os nomes para indicar.Segundo Alessandra Simões, sócia da
Uphill Capital Humano, o governo federal tem lançado mão dessa estratégia
para selecionar conselheiros para as estatais. A contratação de serviços
profissionais de seleção é uma forma de atender requisitos de governança,
para demonstrar imparcialidade, disse a executiva.
A Petrobrás não comentou a substituição de membros de seu conselho. O
Ministério de Minas e Energia, órgão federal que responde pela estatal
petroleira, informou que não contratou serviços de recrutamento e seleção
para o conselho da Petrobrás.